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Livro 01 Duas Vidas 04

                -Pare aí mesmo mocinho aonde é que você vai?
                Amália surpreendeu seu irmão no momento em que ele abriu a porta da frente.
                -Mocinho!? Mana, já tenho 17, acho que já sou grande o suficiente né? – Adriano falou sorrindo marotamente para sua irmã, mais velha.
                Adriano era um jovem enérgico e animado. Ele estudava e trabalhava cuidando do pomar da família. Pele queimada de sol, olhos azuis e cabelos negros. Amália, sua irmã era 8 anos mais velha que ele, compartilhava com o irmão o mesmo tom de cabelo e os olhos azuis, mas sua pele era mais clara.
                - Que seja Adriano, ainda sou responsável por você e preciso saber aonde vai.
                - Preciso mesmo dizer? – Ele sorriu olhando para a irmã que revirou os olhos.
                - Não. – Ela disse se aproximando do irmão - Não volte tarde ok? Juízo! – Ela o abraçou, pôs as mãos em seus ombros e o empurrou de uma vez pra fora de casa rindo. Observou Adriano caminhar até o portão - E mande um abraço pra ela. - gritou para ele e em seguida fechou a porta.
                Amália entrou e se sentou um pouco. Estava cansada e suas costas doíam um pouco. Sua barriga estava enorme, 7 meses. Ela olhou para o relógio. 16:00. Luís seu filho de 2 anos já devia estar acordando de uma boa soneca.
                - Mamãe! - Ela ouviu a voz que vinha do cercadinho no canto da sala.
                - Já vou, meu anjo! – Amália foi até o cercadinho e pôs seu filho no colo. – Você quer fazer carinho na barriga da mamãe?
                - “Qué” – ele respondeu sorridente.
               Ela colocou Luís, um bebê que herdara seus olhos azuis e os cabelos mais claros do Pai, sentado ao seu lado no sofá.
                - Muito bem Luís diga oi pro neném.
                Luís acariciou a barriga da mãe com cuidado da forma desajeitada e fofa que uma criança de dois anos tem.
                Amália olhou para Luís. Como ele parecia com Fernando, seu marido. 1 ano mais velho que a esposa, Fernando tinha olhos esverdeados e cabelos louro acinzentados, e era apaixonado por sua esposa desde os tempos de colégio. Os dois se casaram assim que se formaram no Ensino Médio. Ele acabou ajudando Amália a cuidar do irmão mais novo e todos viviam juntos na mesma casa, em uma cidadezinha do interior próximo a um bosque muito vasto.
                Amália e Adriano cresceram cercados pela natureza virgem, abundante na região. Anos atrás seus pais faleceram em um acidente quando iam para a cidade, não se sabe ao certo o que aconteceu, parece que o carro foi esmagado pelo tronco de uma imensa árvore que caiu devido há uma forte tempestade. Na época ambos eram crianças. Amália ia fazer 13 anos e Adriano tinha apenas 5 anos. Os dois acabaram sendo criados por uma tia que veio a falecer também pouco antes de Amália dar a luz ao seu primeiro filho. Os irmãos herdaram a casa de dois andares de bom tamanho, e ficaram por lá.
                Aqueles anos não foram fáceis, Amália sentiu muito a falta dos pais, mas se mostrou forte e fez de tudo para proteger e cuidar de seu irmão. Aos 17 anos conheceu Fernando, os dois se apaixonaram, se casaram e do seu amor nasceu Luís e agora mais uma criança estava vindo.
                Amália abraçou seu filho e foi até a lareira. Acima dela havia uma prateleira com quinquilharias e porta retratos. Ela pegou um que tinha a foto de um casal em roupas de gala de 30 anos atrás.
                - Veja querido, o vovô e a vovó, eles devem estar muito felizes.
                - Vovó – Luís repetiu, ele ainda não sabia as coisas direito.
                - Isso meu amor! – Amália beijou a bochecha do seu filho que gargalhava de alegria. – Lá do céu... Eles estão muito felizes!

*****

                - Adivinha quem é?
Delicadas mãos tapavam os olhos de Adriano que riu e respondeu:
- Deixe-me ver são muitas as opções... Clarissa, Natallie... Lizzy...
- Acho que não. – A voz respondeu bem próxima ao seu ouvido.
Adriano tocou as mãos da garota delicadamente.
- Uma princesa... – sem se virar ele tirou as mãos dela de seus olhos, beijou-as e finalmente pronunciou seu nome – Maya.
Ela era uma garota bonita, mãe oriental e pai ocidental, tinha pele dourada com olhos puxados e cabelos castanhos lisos e compridos. Adriano se virou e se deparou com o rosto mais lindo que já vira na vida. Depois de segundos de contemplação ele a beijou e ela retribui carinhosamente.
-Ei...ei... – Maya interrompeu o beijo, mas manteve seus braços em volta do pescoço de Adriano – Preciso te dizer uma coisa.
- Ok, pode falar.
- Eu arranjei um trabalho.
- Sério?! Uau, isso é incrível. Parabéns!
- Não é? Estou tão empolgada!
- Dá pra ver. Pena que agora terei que passar menos tempo com você. – Adriano disse e deu um selinho nela. - Mas ainda posso passar na sua casa depois, todos os dias.
- Bem, sobre isso...– Ela ficou séria e olhou para o namorado e desfez o abraço. – Acho que não teremos tempo nenhum. Vou trabalhar na capital.
Adriano olhou para o rosto dela que estava um pouco tenso e por um momento não soube o que dizer. Ele foi pego de surpresa. Não esperava por isso.
- Bem, isso é...
- Você está chateado não é? - Maya viu a expressão triste de Adriano.
- Não! É que... - ele surpirou - É, eu estou um pouco, achei que fosse por aqui. Você não estava tentando uma vaga na venda?
- Sim. Mas você sabe bem que o meu sonho mesmo é ir fazer faculdade de medicina. Consegui uma vaga como secretária de um hospital. Eu sei, não é o mesmo que ser médica, mas pelo menos eu estarei lá vendo as pessoas trabalhando e terei como pagar o cursinho para o vestibular.
- É, você tem um ponto aí. Mas, e quanto a gente? Eu não sou tão esperto quanto você...
Adriano se sentiu incomodado. Sempre soube dos sonhos da Maya e que ela podia alcançá-los facilmente, ele admirava a inteligência e independência dela e sua vontade de ajudar os outros. Ele se sentia até mesmo intimidado as vezes, seu ofício era cuidar do pomar da família e vender frutas na feira da cidade, assim como sua tia e seus pais. Quando ele era pequeno havia também uma criação de galinhas que rendia um dinheiro extra, mas que se acabou quando seus pais faleceram. Era assim que ele vivia. Ele sabia que os dois eram muito diferentes.
- Eu te amo. Você sabe disso né? - Maya disse e tocou de leve seu rosto. Ele balançou a cabeça afirmativamente.
- E eu amo você.
- Acho que teremos que nos separar por um tempo. Não poderei vir aqui com frequência.
            - Então é assim? Nem mesmo nos finais de semana?
                - Bem, não no começo... Você sabe que é caro demais vir pra cá sempre e no começo não terei muito dinheiro. Mas podemos nos ligar todos os dias.
                - É, podemos. – Ele disse triste.
                - Olha, eu sei que não é a mesma coisa. E acredite em mim, eu não quero ficar longe de você e isso é difícil, mas nós dois sabemos que não tem nada para mim aqui. Eu preciso ajudar minha família, e não posso deixar essa oportunidade passar.
                - Eu sei. Jamais te impediria de ir.  – Ele disse sério e depois sorriu.
                - Meu amor, que bom que você entendeu. Tive um pouco de medo de você sei lá... não aceitar bem.
                - Não, não, eu sei que você sempre quis ir pra cidade e estudar lá. Só não esperava que fosse agora, sabe?
                - Pedi transferência essa semana, vou concluir o último ano no turno inverso ao do hospital em um colégio de lá.
                - E quando você vai?
                - Pois é, vou embora daqui a três dias.
                - Uau... Isso foi rápido – Adriano disse meio tonto, meio surpreso, a informação de que ela iria pra capital já era uma grande coisa, mas ele achou que ia ter mais tempo.
                - Pois é...– Maya percebeu que agora ele estava abalado e o abraçou com força. - Você tá bem? Perdão, eu sei que foi de repente, mas pra mim também foi.
                - eh... eu to chocado, pra falar a verdade, ainda não deu tempo de cair a ficha. Temos só três dias. - Adriano passou a mão pelo cabelo. - Só há uma opção agora.
                - O quê? - Maya disse temendo que ele dissesse que eles teriam que terminar assim do nada. Adriano percebeu a ansiedade no rosto dela e sorriu.
                - Terei que grudar em você nesses 3 dias o máximo de tempo até você enjoar de mim. – disse Adriano a abraçando mais forte.
                - Impossível! Preciso de muito mais que três dias para me enjoar de você. Já estou morrendo de saudade. – Maya disse e o beijou longamente.
                Os dois se sentaram ao pé de árvore e admiraram o campo florido juntos. Era o perfeito quadro romântico de livros e quadros. Adriano colheu uma flor branca e a colocou nos cabelos castanhos da namorada que o olhou com extremo carinho e se aconchegou em seu peito.
                - Hey, Adriano
                - Que foi? - Ele olhou pra ela.
               - Que horas você tem que estar em casa mesmo?
               - Umm... umas sete da noite de depois de depois de amanhã. - Adriano sorriu abraçando a namorada mais apertado.
               - E a sua irmã?
               - Que irmã? - Adriano riu.
               - Ela vai me odiar por roubar você assim. - Maya disse rindo.
               - Aaa. Não vai não.
               Os dois ficaram assim abraçados aproveitando a companhia um do outro naquela tarde de sexta-feira.

 
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